quarta-feira

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...Não conheço um ser humano que nao tenha uma história de amor pra contar...!

segunda-feira

Tempo de delicadeza.


Sei que as pessoas estão pulando na jugular uma das outras.

Sei que viver está cada vez mais dificultoso.

Mas talvez por isso mesmo ou, talvez, devido a esse maio azulzinho, a esse outono fora e dentro de mim, o fato é que o tema da delicadeza começou a se infiltrar, digamos, delicadamente nesta crônica, varando os tiroteios, os seqüestros, as palavras ásperas e os gestos grosseiros que ocorrem nas esquinas da televisão e do cinema com a vida.

Talvez devesse lançar um manifesto pela delicadeza. Drummond dizia: "Sejamos pornográficos, docemente pornográficos". Parece que aceitaram exageradamente seu convite, e a coisa acabou em "grosseiramente pornográficos". Por isso, é necessário reverter poeticamente a situação e com Vinícius de Morais ou Rubem Braga dizer em tom de elegia ipanemense:

Meus amigos, meus irmãos, sejamos delicados, urgentemente delicados.

Com a delicadeza de São Francisco, se pudermos.

Com a delicadeza rija de Gandhi, se quisermos.

Já a delicadeza guerrilheira de Guevara era, convenhamos, discutível. Mas mesmo ele, que andou fuzilando pessoas por aí, também andou dizendo: "Endurecer, sem jamais perder a ternura".

Essa é a contradição do ser humano. Vejam o nosso sedutor e exemplar Vinícius, que há 20 anos nos deixou, delicadamente.

Era um profissional da delicadeza. Naquela sua pungente "Elegia ao primeiro amigo" nos dizia:

Mato com delicadeza. Faço chorar delicadamente.

E me deleito. Inventei o carinho dos pés; minha alma

Áspera de menino de ilha pousa com delicadeza sobre

um corpo de adúltera.

Na verdade, sou um homem de muitas mulheres, e com todas delicado e atento.

Se me entediam, abandono-as delicadamente, despreendendo-me delas com uma doçura de água.

Se as quero, sou delicadíssimo; tudo em mim

Deprende esse fluido que as envolve de maneira irremissível

Sou um meigo energúmeno. Até hoje só bati numa mulher

Mas com singular delicadeza. Não sou bom

Nem mau: sou delicado. Preciso ser delicado

Porque dentro de mim mora um ser feroz e fraticida

Como um lobo.

Está aí: porque somos ferozes precisamos ser delicados. Os que não puderem ser puramente delicados, que o sejam ferozmente delicados.

Houve um tempo em que se era delicado. E Rimbaud, que aos 17 anos já tinha feito sua obra poética, é quem disse um dia: "Por delicadeza, eu perdi minha vida."

Intrigante isso.


Há pessoas que perdem lugar na fila, por delicadeza. Outras, até o emprego. Há as que perdem o amor por amorosa delicadeza. Sim, há casos de pessoas que até perderam a vida, por pura delicadeza. Não é certamente o caso de Rimbaud, que se meteu em crimes e contrabandos na África. O que ele perdeu foi a poesia. E isso é igualmente grave.

Confesso que buscando programas de televisão para escapar da opressão cotidiana, volta e meia acabo dando em filmes ingleses do século passado. Mais que as verdes paisagens, que o elegante guarda-roupa, fico ali é escutando palavras educadíssimas e gestos elegantemente nobres. Não é que entre as personagens não haja as pérfidas, as perversas. Mas os ingleses têm uma maneira tão suave, tão fina de serem cruéis, que parece um privilégio sofrer nas mãos deles.

Tudo é questão de estilo.

Aquele detestável Bukovski, sendo abominável, no entanto, num poema delicado dizia que gostava dos gatos, porque os gatos tinham estilo. É isso. É necessário, com certa presteza, recuperar o estilo felino da delicadeza.

A delicadeza não é só uma categoria ética. Alguém deveria lançar um manifesto apregoando que a delicadeza é uma categoria estética.

Ah, quem nos dera a delicadeza pueril de algumas árias de Mozart. A delicadeza luminosa dos quadros dos pintores flamengos, de um Vermeer, por exemplo. A delicadeza repousante das garrafas nas naturezas mortas de Morandi. Na verdade, carecemos da delicadeza dos adágios.

Vivemos numa época em que nos filmes americanos os amantes se amam violentamente, e em vez de sussurrarem "I love you" arremetem um virótico "Fuck you".

Sei que alguém vai dizer que com delicadeza não se tira um MST - com sua foice e fúria - dos prédios ocupados. Mas quem poderá negar que o poder tem sido igualmente indelicado com os pobres deste país há 500 anos?

Penso nos grandes delicados da história. Deveriam começar a fazer filmes, encenar peças sobre os memoráveis delicados. Vejam o Marechal Rondon. Militar e, no entanto, como se fora um místico oriental, cunhou aquela expressão que pautou seu contato com os índios brasileiros: "Morrer se preciso for, matar nunca".

A historiadora Denise Bernuzzi de Sant'Anna anda fazendo entre nós o elogio da lentidão, denunciando a ferocidade da cultura da velocidade. É bom pensar nisso. Pela pressa de viver as pessoas estão esquecendo de viver. Estão todos apressadíssimos indo a lugar nenhum.

Curioso. A delicadeza tem a ver com a lentidão. A violência tem a ver com a velocidade. E outro dia topei com um livro, A descoberta da lentidão, no qual Sten Nadolny faz a biografia do navegador John Franklin, que vivia pesquisando o Pólo Norte. Era lento em aprender as coisas na escola, mas quando aprendia algo o fazia com mais profundidade que os demais.

Sei que vão dizer: "A burocracia, o trânsito, os salários, a polícia, as injustiças, a corrupção e o governo não nos deixam ser delicados."

- E eu não sei?

Mas de novo vos digo: sejamos delicados. E, se necessário for, cruelmente delicados.


Extraído do Livro Tempo de Delicadeza.


SANTA'ANNA, Affonso Romano de. Tempo de Delicadeza - Porto Alegre: L&PM, 2007.

sexta-feira

Escandalizar

" As aparencias enganam aos que odeiam e aos que amam..."


Talvez falte um pouco de emoção, de briga sabe, mas aquela briga mansa, baixinha, bem nossa, bem minha...
Sempre alimewntei o desejo de numa discussão jogar um copo de uisque na parede, gritar, xingar de raiva, mas ae descobri que nao gosto de uisque e a vontade passou... hoje fico com a Vodka, com a falta de sobriedade, com o rasgado mesmo.

Mas derrepente me deu uma vontade loca de uma dose!
De ir furioso com o dedo na cara!!!!, com o olho vermelho!!!, com o peito aberto!!!

Um dia cheguei a colocar todas as lembranças numa caixinha e sumir com elas do meu pensamento... e adiantou, demorou mas adiantou...
Dessa vez não, dessa vez quero escandalizar!!!

segunda-feira

Shortbus


"Sofia (Sook-Yin Lee) é uma terapeuta de casais que nunca teve um orgasmo. Entre seus pacientes estão James (Paul Dawson) e Jamie (PH DeBoy), que mantém uma relação que começa a dar passos maiores. Há ainda Severin (Lindsay Beamish), uma dominatrix que mantém sua vida em segredo e não se abre para as pessoas. Eles se encontram regularmente no Shortbus, um clube underground onde arte, música, política e sexo se misturam."

Em cartaz no Espaço Unibanco um filme que me fez rever algus conceitos, em meio ao tulmultuado mundo moderno uma pausa para rever a realidade do sexo, politica e comportamento.

Assisti e adorei...

Recomendo ( Mas não se choque).

PS: A trilha sonora é OTEMA.

sexta-feira

Todas as cartas de amor são ridículas..."

"Quanto a mim o amor passou...
Eu só lhe peço que não faça... Como gente vulgar...
E não me volte à cara quando passa por si...
Nem tenha de mim uma recordação em que entre o rancor...
Fiquemos um perante o outro...
Como dois conhecidos desde a infância...
Que se amaram por quando meninos...
Embora na vida adulta sigam outras afeições...
Conservam nos caminhos da alma...
A memória de seu amor antigo...
E inútil..."

sábado

Se fechar bem os olhos!

Já se passaram mais de cinco anos, tanta coisa aconteceu e hoje eu chorei de novo.
Chorei um choro de saudade, as lembranças me vem a mente como se tudo tivesse acontecido a dias atrás.
Quando fecho bem os olhos a imagem da pele clara, dos cabelos vermelhos e do sorisso sincero me vem como uma imagem gravada na minha memória.
Ahhhh...já briguei tanto com Deus, praguejei, achei injusto ele ter levedo ela de mim, confesso que até hoje me sinto sozinho, sem referência, sem colo, sem amor...

De vez em quando acordo de madrugada esperando por ela, para nossos longos papos de dois insones, mas ela não vem mais.
Que saudade das manhãs de domingo que ela pronta me acordava pra tomar um banho de piscina, saudade dos longos papos depois do almoço sentados na varanda de casa, tenho a clara lembrança do brilho dos olhos quando ela chegava do trabalho me contando das exposições, das Canções e dos cafés que havia tomado passando pela Paulista.

Hoje sinto que nos entendiamos num simples olhar, como eramos cumplices!!!! como me sentia seguro ao lado dela!!!!!!! que falta sinto dos risadas , dos papos cabeça, dos papos furados, das estórias de infância, das noites sem sono, da musica alta, dos dias que abriamos uma garrafa de vinho e iamos cozinhar...Hoje só consigo viver isso fechando bem os olhos ...

O meu egoismo ainda nao me deixa entender pq ele tirou ela de mim, pq a levou tao cedo, tao jovem, tão cheia de vida, como é dificil viver sem a mulher que mais amo no mundo.
Se fechar bem os olhos ainda consigo ouvir acordada de noite, se fechar bem os olhos ainda sinto o seu perfume pela manhã, se fechar bem os olhos sou capaz de ouvir ela me acordando anciosa pra tomarmos café da manhã...
Um dia talvez consiga entender porque Deus leva a mãe da gente ...

Sei lá, talvez no dia que tudo aconteceu Deus nao estava e o vice era fraco!

terça-feira

Re-escrevendo !

Paginas em branco nos dão a oportunidade de passar a limpo algumas coisas, o medo da pagina em branco talvez nao me afliga mais, descobri que posso fazer um desenho bonito, pincelando sonhos.
Pagina em branco nos da a oportunidade de um novo começo, re-escrever a vida.
A minha nova história ja tem alguns meses, coisas que eu nao preciso passar a limpo.
A poesia tem saido clara, rimada, simétrica como a tempo não conseguia.
Algumas do passado eu rasguei, outras arranquei, dobrei e guardei numa caixinha cor de sangue, essas eu prefiro esquecer...
A de hoje tem um desenho, abstrato ainda, quem sabe um dia ele tome formas...